terça-feira, 17 de janeiro de 2012




Há leitores e leitores. Alguns leem de arma na mão, exatamente como vivem: sempre se defendendo do mundo, perseguidos pelos próprios fantasmas. Leem com o fígado, com a bílis estourada, digerem os textos como se fossem gorduras, distorcem as mensagens, azedam qualquer doce com a amargura que mastigam todos os dias como o alimento que lhes dá sobrevivência (embora às vezes nem percebam).
Aíla Sampaio

Virar a página é deixar para trás uma história que não se gostou de ler. A qualquer tempo, pode-se voltar e retomar a leitura, aventurando-se na possibilidade de encontrar novas motivaçãos ou simplesmente cair em outras ciladas. Como dizia Vespasianus, imperador de Roma  entre os séculos 69 e 79 d.C., "a raposa muda de pelo, mas não de caráter”. Para não correr o risco de um novo bote, talvez seja prudente, em vez de virar determinadas páginas, rasgá-las definitivamente.
Aíla Sampaio





Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo. Assim, Saramago contemporiza a prudência com o ritmo acelerado que impomos à vida. A impetuosidade é uma característica do comportamento adolescente, quando tudo é urgente, nada pode esperar. Sem muitas vezes pensar nas consequências, sem na maioria das vezes certificar-se de que se está sendo justo, tomam-se decisões que, quase sempre, geram ônus, em alguns casos, impagáveis. Quando a maturidade sereniza o pensamento, quando ela não é motivo de angústia pela não-aceitação das mudanças inevitáveis, podem-se frear os ímpetos, diminuir a velocidade com que se tomam decisões, maturando-as na experiência, na parada para avaliar os acontecimentos que geraram as situações conflituosas. O equilíbrio está no respeito ao tempo de cada coisa: se colhermos o fruto verde, perderemos seu verdadeiro sabor; se não o colhemos, ele apodrece e, da mesma forma, ficaremos com o gostinho do que poderia ter sido. É preciso sabedoria para discernir o tempo de plantar e o de colher; é preciso serenidade para não agir no 'calor da hora', para não tomar decisões precipitadas e contrair dívidas que não se pode (ou não se quer) pagar.


 
Já vi príncipes se transformarem em sapos, e sapos em príncipes... gente que trota indelicadezas  e cavalos civilizados. O que separa as espécies não é a aparência física, mas as atitudes.
Aíla Sampaio


Não quero voltar no tempo nem mudar o que já aconteceu, até porque isso não seria possível. Dou-me, entretanto, o direito de avaliar alguns fatos já transcorridos e admitir que, se a mesma coisa acontecesse hoje, eu agiria de modo diferente. É o olhar de hoje que dita as regras do momento; felizmente, sou boa aluna, aprendo fácil as lições e isso me permite mudar de postura. Guardada a experiência para evitar erros recorrentes, a atitude mais lúcida é  apagar as lembranças do passado e viver o presente com sua caixinha de surpresas sempre aberta. E o mais importante: só deixar que permaneça no coração e na memória o que foi bom!
Aíla Sampaio




Aprendi que não se deve discutir com quem tem sempre razão.
Aíla Sampaio


Ninguém quer sofrer. Quem sente prazer nisso é doente: mazoquista. Se se sente uma dor, corre-se aos analgésicos... Se nos traem com palavras ou atitudes, se nos magoam, desmoronamos, vamos aos divãs e antidepressivos etc etc etc. Toda decepção é uma pequena morte, nossa alma padece e não podemos enterrá-la como um defunto para nos livrar da dor. A grandeza do ser humano está em sair mais forte dessas tempestades, colher os ensinamentos que elas trazem. Nada acontece por acaso. Às vezes precisamos ser sacudidos para acordar e enxergar os horizontes que não víamos, os caminhos que a cegueira da acomodação não nos permitia percorrer. O sofrimento é o único processo de amadurecimento real. Não se cresce sem dificuldades, guerras interiores, desencontros, desacertos... Como ninguém está livre de passar  pelo olho do furacão, é inteligente pensar que se pode aprender com isso e crescer como ser humano, como ser espiritual. O mundo dá voltas e o tempo faz com que tudo passe, deixando ensinamentos imprescindíveis à nossa sobrevivência. Aíla Sampaio


Vida é labirinto, movimento, vai-e-vem de pernas e vontades. Caleidoscópio mágico, exaltando cores e brilhos ou simplesmente pintando o mundo de cinza. Vida é gangorra, sobe-e-desce de ladeira, altos e baixos de tênis ou sapato alto. Vida é vale de lágrimas, sofrimentos, decepções, dores que não cessam, perdas e insensatez. Mas vida é também risadas, alegrias, surpresas, confiança e bem-estar, ganhos imensuráveis, lucidez. Nesse fazer e desfazer das coisas, tudo se equilibra se forem colocados os pesos adequados na balança. Não há tristeza eterna nem alegria que dure pra sempre. Felicidade é saber costurar os retalhos e não reclamar das emendas, experimentar os sabores acres, lembrando os doces, e sobreviver aos dilúvios e às tempestades achando que, ainda assim, vale a pena acordar todos os dias e recomeçar. 
Quando nos surpreendemos de modo negativo com alguém, chamamos esse sentimento de decepção. E quando nos surpreendemos positivamente? Quando alguém faz algo bem acima nas nossas expectativas, que nome podemos dar a essa alegria nova? Aíla Sampaio

Ando meio boba, uma alegria frouxa lá dentro se soltando por qualquer coisa... de repente tudo reverdeceu e eu não encontro nenhum motivo pra reclamar do mundo... será que a loucura está me visitando? Aíla Sampaio


Há lembranças tão cansativas como as pessoas que estão dentro delas...
Aíla Sampaio



 




Desejos realizados e desrealizados. Silêncios tumultuados. Vazios repletos. Ser sem a opção de não-ser. O que cansa é esse vai-e-vem de vontades e desvontades; a falta de medida para os sentimentos,  é anoitecer sem ter amanhecido... Há de haver um momento em que nada importe ou doa; em que não se sinta nem se seja, em que apenas se ouça os passos delicados do tempo, sem rasuras na pele ou na alma.
Aíla Sampaio


Não se rasgam silêncios como se fossem papéis. Tal qual, sua delicadeza pode ser lâmima e cortar. Silêncios só se quebram como ovos: para fazer um bolo ou um omelete. Nunca apenas por quebrar.
Aíla Sampaio



A tua verdade não está no palco, sob os holofotes... está nos bastidores, na ausência de plateia, na maciez ou na aspereza de teu travesseiro. Ser bom com os bons, amigo na calmaria, não é SER amigo, é ESTAR... há uma diferença enorme entre o permanente e o provisório. Quem é bom não muda com as circunstâncias; é o que é, independente da direção dos ventos.
Aíla Sampaio



De repente, tudo escureceu... sem que fosse noite, sem que caísse o inverno.  Foi tua ausência que parou as horas, desfigurou as estações e tirou as cores da vida.
Aíla Sampaio

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