sexta-feira, 7 de setembro de 2012


É preciso trocar o disco, ouvir e dizer coisas novas, empurrar o bonde pra frente, fazer a fila andar. É preciso lembrar de não esquecer que água estagnada vira celeiro de doenças; corpo que não se movimenta enguiça; mente preguiçosa faz o cérebro atrofiar. A vida é um bem renovável, por isso, subamos, desçamos, andemos para os lados, mas não fiquemos estáticos no mesmo lugar, esperando que o tempo nos leve para onde ele quiser. Sejamos protagonistas, jamais codjuvantes no enredo da nossa história.
AílaSampaio
Quando te ausentas por muito tempo, finjo que estás morto; mas, se te encontro, de repente, renasces e calas todos os meus ais. O arco-íris que desenhas no céu com o teu sorriso muda o meu rumo, aponta outra estrada; dá cor aos meus dias mais banais, sem que seja preciso uma palavra.

AílaSampaio

Pra mim, um dos piores defeitos do ser humano é a insistência em ruminar o passado. Só posso interpretar isso como falta de presente. A fila tem que andar até para os pensamentos...

AílaSampaio
Estamos conjugando verbos em tempos e modos diferentes, rastejando uma despedida que até pode nem ser o que quermos. Olha bem pra mim e decide que música pretendes dançar. Pode ser que eu tope. Pode ser que não, mas pelo menos saberei o ritmo antes de decidir apertar o 'play' ou o 'eject'. 
AílaSampaio
Vesti um sorriso para receber-te, desarmada como um guerrilheiro rendido, mas vieste como para um combate. Fugi à luta por princípio: no amor, se houver disputa de poder, a batalha já começa perdida.
AílaSampaio

Desinteresso-me fácil pelas coisas muito difíceis. Tamanhos e larguras de que as minhas mãos não dão conta, lonjuras que os meus olhos não alcançam, são apenas motes para a minha poesia. Gosto mesmo é do palpável, do possível, do que se pode prender num abraço.

AílaSampaio


Não disputo poder nem amor. Conquisto-os. 
AílaSampaio
O tempo alonga o nosso pavio, diminui as inseguranças das nossas mãos, coloca menos grau nos espelhos. O tempo diminui o nosso fogo, põe rugas em nossa testa e coloca lentes em nossos olhos. O tempo faz e desfaz sem pedir licença... é generoso e tenebroso. Depende do lado que a gente olhe.
AílaSampaio 
Tu plantaste o deserto em minha alma e agora queres colher flores?
Soterraste a minha esperança de primavera e agora ressurges no outono, para que eu veja que mudaste? Posso até ver, mas jamais volto a enxergar quem um dia jogou areia nos meus olhos.
AílaSampaio 

Talvez um dia nem seja preciso falar: ele já adivinhe. Pode ser também que, de outro modo, ele jamais seja capaz de ler o meu silêncio. Nunca se sabe de que prerrogativas gozam os sentimentos, para que as palavras sejam desnecessárias.
AílaSampaio 



A solidão tem os seus reveses. Ora nos permite ficar deleitados apenas em nossa própria companhia; ora nos preenche com vazios insuportáveis. Ora se mistura à carência, à sensação de abandono, e veste-se de bruxa para nos assombrar; ora habita-nos sem ocupar espaços, permitindo-nos o encontro com a nossa própria essência. Na verdade, solidão só incomoda quando não sabemos o que fazer dela.
AílaSampaio
O que de ti ficou foi cicatriz. Vou cobri-la com muitas sedas para esquecer que doeu. Lua minguante num céu sem estrelas, te vi sol e bebi tua luz. À beira do eclipse, cai nas artimanhas de tuas sutilezas, acreditei loucamente em tudo que me disse o coração – esse inconteste aprendiz . Não eras o sol que me acordava nas manhãs. Fui eu que assim te fiz: impressão colorida em papel couchê; delicadeza irreal, um amor feito de clichês. Preciso das armas de Jorge para vencer a batalha, para esquecer o que não foi vivido; preciso do fogo dos sete raios para quebrar a navalha que me reparte e me dilacera na saudade do que não aconteceu.

AílaSampaio

O que sou é o que sinto: calmaria, temporal, manso lago de cristal ou mar revolto. Não minto, apenas finjo calar, porque, solto, meu pensamento é um labirinto, é só vendaval. Apresso-me para o dia, fecho a armadura, e paro no meio do caminho: pressinto a pedra , a palavra, a rosa , os espinho, e calo. Meu silêncio, amigo, não se engane, é redemoinho.

AílaSampaio


Sou a que se despede sempre que chega; os olhos marejando, a pele em febre qual um vulcão soterrado que nunca explode. Sou a que vive à flor da pele, que nunca deixa o barco à deriva nem sente sede sob o sol causticante. A que não sente medo ante o mar em que navega sem remos; a que vive a derrubar paredes, a atravessar pontes. Sou a que nunca chega a tempo, sempre depois... ou antes.

AílaSampaio


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