É preciso trocar o disco, ouvir e dizer coisas novas, empurrar o bonde pra frente, fazer a fila andar. É preciso lembrar de não esquecer que água estagnada vira celeiro de doenças; corpo que não se movimenta enguiça; mente preguiçosa faz o cérebro atrofiar. A vida é um bem renovável, por isso, subamos, desçamos, andemos para os lados, mas não fiquemos estáticos no mesmo lugar, esperando que o tempo nos leve para onde ele quiser. Sejamos protagonistas, jamais codjuvantes no enredo da nossa história.
AílaSampaio
Quando te ausentas por muito tempo, finjo que
estás morto; mas, se te encontro, de repente, renasces e calas todos os
meus ais. O arco-íris que desenhas no céu com o teu sorriso muda o meu
rumo, aponta outra estrada; dá cor aos meus dias mais banais, sem que
seja preciso uma palavra.
AílaSampaio
Pra mim, um dos piores defeitos do ser humano é
a insistência em ruminar o passado. Só posso interpretar isso como
falta de presente. A fila tem que andar até para os pensamentos...
AílaSampaio
Estamos
conjugando verbos em tempos e modos diferentes, rastejando uma
despedida que até pode nem ser o que quermos. Olha bem pra mim e decide
que música pretendes dançar. Pode ser que eu tope. Pode ser que não, mas
pelo menos saberei o ritmo antes de decidir apertar o 'play' ou o
'eject'.
AílaSampaio
Vesti um sorriso para receber-te, desarmada como um
guerrilheiro rendido, mas vieste como para um combate. Fugi à luta por
princípio: no amor, se houver disputa de poder, a batalha já começa
perdida.
AílaSampaio
Desinteresso-me fácil pelas coisas muito difíceis. Tamanhos e larguras
de que as minhas mãos não dão conta, lonjuras que os meus olhos não
alcançam, são apenas motes para a minha poesia. Gosto mesmo é do
palpável, do possível, do que se pode prender num abraço.
AílaSampaio
Não disputo poder nem amor. Conquisto-os.
AílaSampaio
O
tempo alonga o
nosso pavio, diminui as inseguranças das nossas
mãos, coloca menos grau nos espelhos. O tempo
diminui o nosso fogo, põe rugas em
nossa testa e
coloca lentes em nossos olhos. O tempo faz e desfaz sem pedir
licença... é generoso e tenebroso. Depende do lado que a gente olhe.
AílaSampaio
Tu plantaste o deserto em minha
alma e agora queres colher flores?
Soterraste a minha esperança de primavera e agora ressurges no
outono, para que eu veja que mudaste? Posso até ver, mas jamais volto a enxergar quem um dia jogou areia nos meus olhos.
AílaSampaio
Talvez
um dia nem seja preciso falar: ele já
adivinhe. Pode ser também que, de outro modo, ele jamais seja capaz de
ler o meu silêncio. Nunca se sabe de que prerrogativas gozam os
sentimentos, para que as palavras sejam desnecessárias.
AílaSampaio
A
solidão tem os seus reveses. Ora nos permite ficar deleitados apenas em
nossa própria companhia; ora nos preenche com vazios insuportáveis. Ora
se mistura à carência, à sensação de abandono, e veste-se de bruxa para
nos assombrar; ora habita-nos sem ocupar espaços, permitindo-nos o
encontro com a nossa própria essência. Na verdade, solidão só incomoda
quando não sabemos o que fazer dela.
AílaSampaio
O que de ti ficou foi cicatriz. Vou cobri-la
com muitas sedas para esquecer que doeu. Lua minguante num céu sem
estrelas, te vi sol e bebi tua luz. À beira do eclipse, cai nas
artimanhas de tuas sutilezas, acreditei loucamente em tudo que me
disse o coração – esse inconteste aprendiz . Não eras o sol que me
acordava nas manhãs. Fui eu que assim te fiz: impressão colorida em
papel couchê; delicadeza irreal, um amor feito de clichês. Preciso
das armas de Jorge para vencer a batalha, para esquecer o que não foi
vivido; preciso do fogo dos sete raios para quebrar a navalha que me
reparte e me dilacera na saudade do que não aconteceu.
AílaSampaio
O que sou é o que sinto: calmaria, temporal,
manso lago de cristal ou mar revolto. Não minto, apenas finjo calar,
porque, solto, meu pensamento é um labirinto, é só vendaval. Apresso-me
para o dia, fecho a armadura, e paro no meio do caminho: pressinto a pedra , a palavra, a rosa , os espinho, e calo. Meu silêncio, amigo, não se engane, é redemoinho.
AílaSampaio
Sou a que se despede sempre que chega; os
olhos marejando, a pele em febre qual um vulcão soterrado que nunca
explode. Sou a que vive à flor da pele, que nunca deixa o barco à
deriva nem sente sede sob o sol causticante. A que não sente medo
ante o mar em que navega sem remos; a que vive a derrubar paredes, a
atravessar pontes. Sou a que nunca chega a tempo, sempre depois... ou
antes.
AílaSampaio
Nenhum comentário:
Postar um comentário