sábado, 6 de outubro de 2012

Amor daquele jeito, nunca mais. Nunca mais aquela adrenalina pra andar na contramão, a taquicardia virando rotina e a insegurança por qualquer coisa. Continuo a defenestrar o que tira a minha paz; até perco o interesse pelas flores clandestinas, que eu tanto gosto de receber... Nunca mais amor daquele jeito, pra me fazer insolente com a vida, debochada com a poesia, e inimiga das horas devoradas sem obediência aos relógios. Guardo ainda na memória os jardins suspensos em minha janela; o gosto do vinho que derramava em seu corpo e o cheiro das tardes toscas que ele me dava. São lembranças encardidas esgarçando num feroz e inútil alvejante que tento sepultar bem longe de casa e dos meus pensamentos.
Aíla Sampaio

 


Tudo em mim é por um triz. Tudo é urgente e beira o abismo. Tudo é por um fio, risco iminente de não ser, de não dar certo... Mas sempre reverto, sempre brigo com o destino e mostro sua displicência comigo; sempre aconteço a tempo de mostrar que a minha vontade não é submissa a ele.
Aíla Sampaio
 
Essas certezas de felicidade que nos acordam de repente, esses movimentos desordenados do tempo à simples menção de um nome, à simples espera de um toque do telefone ou à chegada de um e-mail, essa sensação de que as cores do mundo se renovam a cada instante, são sinais das conspirações do universo e seus batimentos cardíacos a advertir que estamos amando e sendo amados na mesma intensidade.
Aíla Sampaio




Paixões avassaladoras, daquelas que cegam e ensurdecem, não devem sair da primeira marcha. Antes de passar a segunda e subsequentes, a atitude mais inteligente de quem não tem adrenalina para manobras radicais é a marcha a ré.
Aíla Sampaio
 
 

 
Não era a hora ainda... só pude saber poque não aconteceu como eu queria.
Aíla Sampaio
 

 
Recomeça-me de onde paraste. No intervalo, nada aconteceu de que o meu corpo tenha guardado o registro.
Aíla Sampaio

 


O silêncio aumenta as distâncias geográficas, como se impusesse quilômetros a mais às extensões de terra e água, e aumentasse o volume da saudade que se acumula como numa represa sem sangradouro.
Aíla Sampaio
 

 
Eu te perdoo por tudo o que me fizeste esperar inutilmente, pelo que me deste de solidão, pelas interrogações que pontuaste em meus pensamentos. Demorei a encontrar a resposta, mas hoje sei: essa tua incapacidade de sair de ti mesmo te impede de amar o outro. Amar apenas a si mesmo deve ser como habitar espelhos ou afogar-se nas própria águas. Que poderia eu sentir senão piedade?
Aíla Sampaio
 
 

Não suporto quem anda pelas beiradas, quem se esgueira na sombra e age sempre na calada da noite. Suporto menos ainda quem bajula, quem se disfarça, quem escamoteia, quem se acostuma a mentir e e parecer convincente como se todas as pessoas fossem idiotas. Tenho abuso tórrido de quem se esconde nas entrelinhas e se protege em cima dos muros; de quem só age em interesse próprio e é incapaz de ver o mundo além das suas fronteiras bem delimitadas pelas conveniências pessoais. Narcisos só são bonitos quando se afogam na própria imagem e viram lenda. Os reais são repugnantes.
Aíla Sampaio

 

Certas pessoas poderiam permitir que as suas ideias, pelo menos de vez em quando, saíssem da sombra das árvores alheias para tomar um banho de sol...
Aíla Sampaio
 
 
Bem que as coisas melhorariam se os cupidos resolvessem usar GPS em sua flecha.
Aíla Sampaio
 
 
 

Ele nunca se apercebeu que o amor carece de surpresas e certa imprevisibilidade... Sua presença, aos poucos, trouxe de volta a monotonia da minha vida antes de conhecê-lo.
Aíla Sampaio

 


 
De repente o que era tão importante já não é; o que fazia diferença já não faz; o que movia os ponteiros do nosso relógio interior já não os move, como se o tempo tivesse estancado o que foi para não mais ser. De repente, a vida acrescenta personagens à nossa história, retira outros, alterna posições e remaneja sentimentos, ora nos satisfazendo, ora nos contrariando, mas sempre movimentando a engrenagem e guardando as explicações para bem depois.
Aíla Sampaio
 
 

Sempre escrevi teu nome com letras maiúsculas, mas tu só lias o meu em voz baixa. Desisti de acertar o ritmo, a frequência e a sintonia. Nunca mais vou rasurar meu grito nem disfarçar a insensatez que foi te amar um dia.
Aíla Sampaio


 



Prefiro a guerra, que tem as regras do jogo bem claras - matar ou morrer - à paz armada com as suas emboscadas, armadilhas e tiros (aparentemente) perdidos.
 Aíla Sampaio

 


Amores que não deram certo não foram amores, foram desastres emocionais.
Aíla Sampaio
 
 



Ele me amou em sentido anti-horário, por isso não conseguimos acertar os nossos ponteiros...
Aíla Sampaio
 




Coloquei-o na prateleira, em ordem alfabética, como um livro lido, analisado, discutido, mas do qual não quero ainda me desfazer.
Aíla Sampaio
 

 

O que passou já não conta, já não importa. Quando as lembranças querem vir, ameaçando ressurreição de mortos, finjo que não é comigo.
Aíla Sampaio

 




Guardei o teu silêncio dentro do meu grito para aprender a ouvi-lo.
Aíla Sampaio
 
 
 
Aos poucos fui percebendo que estar com ele era como assistir ao mesmo filme
várias vezes. De tão previsível, acabou no arquivo morto, qual os jornais de datas já passadas.
Aíla Sampaio


 

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