sexta-feira, 18 de maio de 2012

Quando o passado ainda arde, feito ferida que não sarou, melhor mesmo é não brigar com fantasmas, esquecer as tipoias, os curativos e as muletas. E esperar o tempo moldar a cicatriz no seu ritmo, afinal, ferida só fecha por fora quando nada mais sangra por dentro.

AílaSampaio


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A felicidade não mora ao lado, como nos disseram... ou está do lado de dentro ou em lugar nenhum.

AílaSampaio



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Nos dias insanos eu uso vermelho. E nos de tristeza, porque preciso de cor pra acender essa minha palidez. O batom igual... se não, é como sair sem boca por aí. Ele não gosta, me quer em tons pastéis, com a discrição de uma personagem de Saramago, quando eu estou sempre mais pra Madame de Flaubert. Morna nunca fui nem de panos poucos, mas gostei sempre de adornos e cores para realçar as sem-gracezas que a idade foi pondo na cara lavada impossível com que ele quer que eu ande. Ele pensa como um menino e como se eu tivesse idade de menina a vida toda. Fosse eu cair na dele e já o teria perdido... desisti de explicar e disfarcei todo o resto. Batom e vestido... tudo vermelho e sem pressa, só pra me acender e a ninguém mais.

AílaSampaio



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Viver é povoar desertos, tentar colher flores em jardins de concreto... Não basta subir as escadarias e olhar o mundo. É preciso pular no precipício e, sem asas, arranjar um jeito de aterrisar; sobreviver e continuar, continuar, continuar... indefinidamente e com vontade, a despeito de abismos, céus, medos ou coragens, lágrimas ou sorrisos. Que a porta nunca se feche sem que tenhamos visto pelo menos uma flor!

AílaSampaio



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Vontades subterrâneas de escrever os meus silêncios sobre a música do vento, de reler cartas e e-mails que expulsei há tempos dos arquivos da memória. Vontades que lanço pela janela do quarto, enquanto dormes em algum lugar, inocente das minhas intenções de te soterrar no meu passado, para que não corras o risco de aparecer no presente ou no futuro, pois já não cabes em nenhum tempo, em nenhum espaço, em nenhum pensamento que possa me pertencer.
AílaSampaio




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Quando eu pensava que nada mais moveria os ponteiros daquele relógio parado, esquecido entre os guardados que não se utiliza mas não não se quer jogar fora, eis que eles se movimentam como se bombassem sangue novo para o velho coração. Foi tanta a surpresa que perdi as palavras e o chão, mas continuei caminhando, esperando as respostas que o tempo ainda não trouxe para as perguntas que eu não fiz, mas estão em fratura exposta sobre os dias, as horas, as semanas e os meses que parecem não ter passado a cada vez que o telefone toca e o teu nome pula dentro dos meus olhos. Foi outra vez o inesperado que abriu fendas na terra árida e plantou flores... não sei se irei colhê-las, mas poder vê-las da minha janela já é um bom motivo para abrir a minha caixinha de segredos e guardar mais um enigma.
AílaSampaio









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